domingo, 2 de junho de 2019

DOZE PASSOS DA MANDALA - Adélia Maria Woeliner

(I)
Despertei...
Consegui pronunciar
palavras
e tudo começou,
só para perceber
a experiência de existir.

(II)
Encontrei
fronteiras,
segui rumos,
observei belezas e sombras,
só para perceber
que estava em terra firme.

(III)
Andei pelo mundo,
colhendo imagens duplas,
leste, oeste,
norte, sul
(- pra que lado eu vou?).
Com minha própria imagem,
no espelho da vida,
falei comigo,
tanto, tanto,
só para perceber
que eu era uma só.

(IV)
Uni semelhantes
e até estranhos,
me enrosquei,
criei laços,
só para perceber
que precisava buscar
a libertação.

(V)
Ousei invadir
a jaula do meu leão,
só para perceber
que as grades
deixam fluir a luz.

(VI)
Metódica, disciplinada,
persistente,
criei resistências
só para perceber
o prazer de poder mudar.

(VII)
Saltei pelos pratos da balança.
Fui sacudida
em altos e baixos,
só para perceber
que no centro
estava a paz.

(VIII)
Juntei, amealhei,
pensando na eternidade.
Conceitos e coisas
envelheceram,
esgarçaram.
O sino ecoou
em despedida.
Morri um pouco,
só para perceber
o impulso da renovação.

(IX)
Ansiei expansão.
Insisti para encontrar
espaços amplos,
benéficos.
Pintei rosto alegre,
nas folhas do tempo...
Construí morada em lábios de
sorriso.
Na porta da casa,
fiz da flecha
fechadura e proteção.

(X)
Percorri estágios,
montei estruturas,
seduzida pelo poder.
Alcancei o cimo,
olhei em torno,
para enxergar o vazio.
Desci pelo outro lado
da montanha,
só para perceber
o valor
da reconstrução.

(XI)
Percorri o caminho
do meu menino
carregando água,
borrifando, por igual,
gotas nas margens,
alegrando rosas e ervas daninhas,
só para perceber
a partilha
e a natureza saciada e feliz.

(XII)
Mergulhei no mar,
perdi a noção do tempo.
Nele, não era mais eu.
Investiguei profundezas,
me diluí num céu misterioso,
só para perceber
que existem encantamentos.

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