segunda-feira, 10 de agosto de 2020

NADA TIVE QUE ERA MEU – Natércia Freire

Nada tive que era meu.
Perdi estradas, perdi leito.
Na pedra aonde me deito
Nada fala de alvos linhos.
Se com cegos me aventuro,
a caminho rente aos muros,
é que meus olhos impuros
sonham Cristos nos caminhos.

Nada tive que era meu
e o corpo não quero eu.
Podia servir de embalo,
mas serve de sepultura.

Cemitério de asas finas,
tange e plange aladas crinas,
canto de praias sulinas
de infinitas amarguras...

Nenhum comentário:

Postar um comentário