domingo, 23 de agosto de 2020

O POETA AFOGADO – James Merrill

Tradução de Pedro Fernandes
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O poeta afogado, horas antes de afogar-se,
tinha olhos de redemoinho, sal em seus pulsos, e exibia
uma líquida aparência. O mar estava inteirado
como as flores na cabeceira de uma ferida,
de uma responsabilidade iminente,
como um ímã tendendo para o lado dele durante todo o dia azul,
ambíguo como um pulmão.

Ele observava os mergulhadores estudar um elemento
familiar como as escalas para o músico,
em que nadar é uma progressão de longos vocais,
uma comunicação que nunca pode ser buscada
pois em si mesma é completa: evidente como as pérolas,
simples como as pedras ao sol, uma felicidade
ligada aos acontecimentos.

Afogar-se foi a perfeição da técnica
a palavra envolvendo seu próprio sentido, como o Tempo;
e voltando-se para si o mar penetrou nele
como se falássemos de poemas num poema,
ou no momento culminante numa sonata citássemos
exercícios de digitação: um elogio
para o sucesso completo.

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