segunda-feira, 24 de agosto de 2020

UM HOMEM MAGRO – Sebastião Uchoa Leite

 

Sentado à beira da cama
Quase na beirada
Com os pés soltos em alpargatas de pobre
Bem ereto
Em seu centenário
Espigado
Duro
Ele respira
O que se chamava de dignidade
E hoje
Alguns mofam disso
Uma camisa de brim popular
De listras diversas
Em vermelho marrom e amarelo
Muito magro quase um esqueleto
Mas firme
A cama dura está coberta
Com um incrível cobertor
De retalhos coloridos
E em cima dela
Sobre o cobertor
Que é um quilt artesanal
(Mas ele nem sabe disso)
Uma grossa bengala
Ignora que está elegantíssimo
Vestido no seu brim
Num ambiente pobre
E rude
Emana severidade
E verdade

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