sexta-feira, 7 de agosto de 2020

PUNHAL EXCELENTE – António Manuel Pires Cabral

Já quase não há, o punhal excelente
com que a mim próprio me esventrei algumas vezes
para melhor me desentranhar em versos –

– esse lícitos salpicos de lama,
essas coisas à toa, hosanas, ambições,
promessas, juras, astutas
ingenuidades: toda essa merda que há
dentro do poeta e com que ele gosta
de borrifar os outros. Para que
não se fiquem a rir.

E eis que agoniza: o gume rombo,
manchas inamovíveis de ferrugem,
incapaz de incisões, definitivamente
inoperacional o punhal excelente.

Paz ao seu aço.

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