quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

CANTIGAS – Moura Rego

 

Eu vivo a fazer cantigas
para minha alma alegrar,
mas lembro mágoas antigas,
ponho-me logo a chorar.

Meus males sempre cantei-os
a consolar quem padece;
quem ouve males alheios
dos próprios males esquece.

A cantar passo os meus dias
e as dores vou suportando
que as dores são alegrias
para quem vive chorando.

Saudade - dor e carinho,
tortura ao passo que afaga:
a saudade é como o vinho
que é doce mas embriaga.

Hoje pousou uma abelha
na tua boca mimosa;
tão perfumada e vermelha,
parece mesmo uma rosa.

Estavas hoje tão bela
sob a cambraia do véu,
que eu cuidei ver uma estrela
por entre nuvens no céu.

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