domingo, 14 de junho de 2020

AQUATIC CENTRE – Maria Borio

Tradução de Cláudia Tavares Alves

Deitada na cama, às vezes vê formas,
curvas que entram e espirais que escapam.
Órgãos transparentes no alto se abrem
e se transformam em uma linha
suave que persegue a si mesma,
limpa o respiro das cores escuras – a cor do sangue,
ou a densa cor da carne onde nascem as abelhas.

Nada se regenera, mas é prolongado, infinito
na linha que limpa os objetos e faz coisas
para pensar, para morar:
um grande ovo, por exemplo,
se rompe sem perder o líquido
e branquíssimo invade
os ângulos do teto, abre um arco, uma porta
entre continentes.

Entre o céu e a água este edifício
brilha numa luz ilimitada:
pode abri-lo, abrir-te
a uma língua de tons ásperos,
retornar ao som redondo de uma outra
retomando aqueles tons
como janelas sobre o mar
ou a ponte suspensa para o parque
onde as pessoas deitadas
sobre a grama são abelhas
e o calor ao sol parece impedir a morte
mesmo que em anos, milhões,
algum dia explodindo.

Segue então outras linhas,
aquelas da espécie,
talvez como saber que nascer
não será mais violência,
mas fenômeno do olhar,
e da cama deixa o sexo escalar
em torno dos contornos deste edifício
em seu branco sob raios tempestade,
a estrela no instante antes
de explodir.

A vida está em todo lugar,
em uma linha curva
alguém mora como pensar.
As abelhas enfim deixam a minha boca
porque as penso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário