sexta-feira, 12 de junho de 2020

AS JANELAS – Antonio Carlos Gomes

Chove...
Abro as janelas
Para a noite entrar...
Entram lentamente
Lembranças apagadas
De um mundo que se foi:
Contornos tímidos
Disformes,
Dançam...
O que passou?
Que fim levou
A moça magra e formosa
Que dançava fogosa
Sem nunca ter ninguém?
Foi embora com seus sonhos?
Será que hoje
Retornará obesa
Me jurando amor
Com movimentos presos
Na marcha de ganso?
E os olhos tão límpidos
Da loira incandescente
Que sugava no olhar
Mas nunca me olhou?
Será que estão profundos
Nesta marcha do tempo
Com um quê de fim do mundo
Não sendo nem olhar?
Será que o espelho
Do outro quarto
Irá me recriminar?
Não choro, mas olho
As formas passadas
Deformadas
Pela noite.

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