segunda-feira, 1 de junho de 2020

DISSOLUÇÃO – Valdeci Ferraz

O domingo se desfez,
dissipou-se como o rio
tragado pelo oceano.

As expectativas,
os projetos,
os sonhos
foram jogados no baú
e trancafiados com a chave da esperança.

O som das sirenes
lembra o grito das almas
no inferno de Dante.
A tristeza desfila pelas avenidas desertas.

Deus! Oh Deus!
Onde estás? Onde te escondes?
Que não ouves, não respondes?
O nosso riso congelou-se
em uma esquina temporal
e os ladrões do templo
luziram suas luvas
sem ter quem os chicoteasse.

Restaram os abraços
que não foram dados,
as palavras que não foram ditas,
as despedidas que não foram feitas.

O anseio da vida
implode nos corredores
impulsionado por espasmos de gozo,
enquanto o domingo
escorrega para o túmulo.

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