Atravesso as avenidas da cidade como quem chega
De algum lugar onde a cidade não havia
Paro em frente aos prédios mais antigos
E neles a minha lembrança enxerga
Os passados enterrados em suas paredes
De algum lugar onde a cidade não havia
Eu dobro as esquinas nessa caminhada
Como alguém que chega pensando em partir
E sento ao meio-fio de suas calçadas
Observando os fantasmas de sua melancolia
Na chegada caminho pelas ruas estreitas da cidade
E penso em escrever um poema onde antes
Existia um cinema ou uma casa antiga
Mas desse lugar onde a cidade existia
Os versos ficam escondidos e sem ritmos
E dentro da noite vejo a cidade verdadeira
Sem disfarces e sem inquietações
Os boêmios nos bares e as putas
Zanzando em busca do som mais ignorado
Do silêncio de suas amarguras
O poema ao nascer tem o cheiro das avenidas
Marcadas pelas carcaças dos velhos edifícios
Dos lugares onde a cidade não havia
Assim resolvo ser o cidadão envelhecido
Dentro de suas ruelas e esquinas vazias.
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