sexta-feira, 22 de outubro de 2021

INCÓLUME - Thiers Ribeiro de Andrade

 

Paredes e ouvidos
gritam a dedos desvalidos
naquela noite
ardia vermelha taça
na boca de teus seios
o cigarro parado queimava
enquanto veias intumesciam
era o maldito desejo a dizer:
quero-te!
quero-te no lençol sangrento
da noite infernal
quero queimar sem cinzas
abocanhar tua voz
na renda desenhada
de teu pensamento
perfurando histórias
às gargalhadas
quero-te na ausência
do cheiro forte que exalas
quero-te mordendo
até que possas saborear
cerejas desfazendo-se
em roucas letras
ainda por se formar
somente porque
esvaziaste e consumiste
o gole fatal
sem entender o porquê
estou limpo
lavado e barbeado
à espera de que algo aconteça

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