sexta-feira, 29 de outubro de 2021

JÁ TANTO OS MEUS OLHOS VIRAM… - Maria Antonieta Matos

Já tanto os meus olhos viram…
Contentes a encher a alma
Sorrindo imponentes a doce calma
Da merecida paisagem… a cintilar riram

Já tanto os meus olhos viram…
Entusiasmados, penetrantes
Desejosos que não passem
Esses instantes deslumbrantes

Já tanto os meus olhos viram…
Amargos, chorosos a reclamar
Do mundo aflito que desaba
Num vulcão a mergulhar

Já tanto os meus olhos viram…
Despedaçados sem luz
Ao ver incandescente rio
Descer o monte bravio
Carregar o medo e a cruz

Já tanto os meus olhos viram…
Já tanto os meus olhos viram…

Vi dentar o cume das árvores
Pelas águas revoltas da tormenta
Arrancarem por onde passam
As casas e a terra sangrenta

Vi veículos desorientados
Em correria sem tréguas
Galgarem barreiras como fardos
Tombarem em algares a léguas

Vi muita ansiedade e dor
Calamidades, suplício
Um sufoco emaranhado
Uma vida de sacrifício
Vi mulheres maltratadas
Como se fosse uma coisa
Sem direitos… Humilhadas
A um pequeno espaço, confinadas

Vi muita desumanidade
Sem vergonha… nem compaixão
Matar sem escrúpulos ou piedade
Por mitos de religião

Vi a natureza revoltosa
Por defesa de extinção
Zangar-se com a humanidade
Vestida de furacão

Vi a terra a estremecer
Cadáveres por toda a parte
Dos escombros, muito sofrer
Agonia, desespero, desastre

Vi a terra comer o mar
Um braseiro imparável
Uma cratera a fulminar
Na vastidão vulnerável

Nenhum comentário:

Postar um comentário