domingo, 5 de julho de 2020

A ÚLTIMA ESTROFE – Cândido das Neves

A noite estava assim, enluarada
Quando a voz, já bem cansada
Eu ouvi de um trovador
Nos versos que vibravam de harmonia
E ele em lágrimas dizia
Da saudade de um amor.

Falava de um beijo apaixonado
De um amor desesperado
Que tão cedo teve fim
E, dos seus gritos e lamentos
Eu guardei no pensamento
Uma estrofe que era assim:

Lua, vinha perto a madrugada
Quando, em ânsias, minha amada
Em meus braços desmaiou
E o beijo do pecado
Em seu véu estrelejado
A luzir glorificou.

Lua, hoje eu vivo tão sozinho
Ao relento, sem carinho
Na esperança mais atroz
De que cantando em noite linda
Esta ingrata volte ainda
Escutando a minha voz.

A estrofe derradeira, merencória
Revelava toda a história
De um amor que não morreu.
E a Lua, que rondava a natureza
Solidária com a tristeza
Entre as nuvens se escondeu.

Cantor, que assim falas à Lua
Minha história é igual à tua
Meu amor também fugiu.
Disse a ele em "ais" convulsos
Ele, então, entre soluços
Toda a estrofe repetiu:

Lua...

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