sábado, 11 de julho de 2020

PROCURAÇÃO - David Avidan

Tradução de Nancy Rozenchan
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(A quem interessar possa)

O que justifica mais do que tudo
a solidão, o grande desespero,
o carregar estranho do jugo
a solidão grande e o desespero grande
é o fato simples, cortante
que não temos na realidade para onde ir.

Em noites claras o ar é frio
e por vezes as noites são espessas também,
e chove e há sirocos
e corpos bonitos e também rostos,
que por vezes sorriem e por vezes não,
por vezes por causa dela, por vezes por causa dele.

A paisagem é simples e desprovida de névoas,
anjos na escada não descem, não sobem,
por vezes odeiam, por vezes amam,
há poucos amigos e principalmente inimigos,
mas há um forte desejo de fluir
como um rio, único, à luz do dia,
permanecer jovem sempre e sonhar
com um ritmo ousado à luz do dia,
como um rio, único, fluir, fluir
só o nosso corpo envelhece dia a dia.

O que justifica mais do que tudo
o sonho, o desespero grande,
o conhecimento de que não há qualquer justificativa
e a sua busca renovada a cada momento,
a comoção e a opressão,
o que justifica mais do que tudo,
o que justifica o desespero grande,
é o fato simples, cortante
que não temos na verdade para onde ir.

Só o nosso corpo envelhece dia a dia
e somos um rio à luz do dia,
fluir único, único a fluir,
o que justifica, o que justifica o sonho
o que justifica o desespero grande,
o que justifica mais do que tudo.
(N.B.)
As noites são claras e o ar é fresco,
há vigor e há energia e amor não há
e já não há sorriso e já não há palavras,
anjos na escada não descem, não sobem
as poesias, como de hábito, só revelam
aquilo que é possível dizer com palavras,
por isso a si próprios do topo de uma rocha lançam
ao grande mar, e ali as ondas
sobem e descem, sobem e descem.

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