terça-feira, 7 de julho de 2020

POEMA DUMA EPÍGRAFE - António José Branquinho da Fonseca

Emigre... tudo despreze
e o sol requeime as raízes
para que leve me pese
a vida noutros países...

Leva-me um som que me perde
e afunda no mar sem fim
da minha vida: mar verde
também náufrago de mim.

Voe onde o mar já é céu!
longe, onde o céu se desprende...
Que nem me quis, nem perdeu,
tão perto a vida me prende!

Ó emigrante de mim,
que sempre ao cais me regressa
esta viagem sem fim
onde a ausência não começa!

Ah! que eu fosse e lá ficasse,
ou voltasse, ou fosse ao fundo!
Mas sem máscaras na face,
e sem dar a volta ao mundo!

Encontrar consolação,
desilusões, ou morrer...
Verdades são ilusões;
esperanças quero-as ter...

Se nos céus uma donzela
branca flor ergue na mão
ninguém tem os olhos nela,
só a tem no coração.

Ou seja: que tudo existe,
e em nós é eco: responde.
E a vida só nos é triste
por não sabermos o aonde.

Como um astro que circundo,
tão belo mundo infinito,
sinto a vida ser um mundo
que é só meu e não habito.

Pois donzelas, são assim,
os dias da minha idade,
e os enamoro de mim,
desculpado da saudade.

O tempo já me não foge,
mas sim comigo vem ter;
Já vivi o tempo de hoje
antes de ele me viver.

Eis-lhe saudades agora
quanto outras mágoas maiores
já me levaram embora
fugido doutros amores.

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