quinta-feira, 9 de julho de 2020

CONFISSÃO - Raimundo de Moraes


Com paciência esperei sua chegada.
Fiz-me santa, guardei meus anéis de prata.
Cabelos escovados, olhos em soslaio
medindo os centímetros da tarde de verão.
Quando chegou, eu já estava pura.
Tentei esconder essa embriaguez
que seu cheiro me dá:
a memória grita sonhando
com amêndoas doces de Tiro e Sidon.
Mas não.
Quando senti seus músculos sobre mim
desataram as máscaras.
Seu silêncio, eu sei, é pudor.
Ele de repente lembra de certas dançarinas do cais
e vê em olhares
éguas, cadelas, gatas.
\Nunca uma mulher apaixonada.


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