quinta-feira, 9 de julho de 2020

TEU LENÇO – Sebastião Passos

Este teu lenço que eu possuo e aperto
De encontro ao peito quando durmo, creio
Que hei de um dia mandar-te, pois roubei-o,
E foi meu crime, em breve, descoberto.

Luto, contudo, a procurar quem certo
Possa nisto servir-me de correio;
Tu nem calculas qual o meu receio,
Se, em caminho, te fosse o lenço aberto. . .

Porém, ó minha vívida quimera!
Fita as bandas que habito, fita e espera,
Que, enfim, verás em trémulos adejos,

Em cada ponta um beija-flor pegando,
Ir o teu lenço pelo espaço voando
Pando, enfunado, côncavo de beijos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário