quinta-feira, 16 de julho de 2020

TAÇAS – Fausto Cardoso

Deslumbrado cheguei chorando à terra, um dia;
e, do lauto festim da vida, achei-me à mesa;
sempre libei cantando a taça da Alegria
embebedou-me sempre o vinho da Tristeza.

Esplêndidas visões trouxeram-me à porfia
as ânforas do Amor; e de volúpia acesa,
minha boca de boca em boca um mosto hauria,
que de tédio me encheu por toda a Natureza.

Dá-me a velhice a taça; eu das paixões prescindo;
e, ébrio, ascendo a espiral de um sonho delicioso,
no vinho da Saudade achando um gosto infindo...

Parece-me o passado um rio luminoso,
onde vogo a rever, pelas margens florindo,
a dor, que ao longe tem as seduções do gozo!

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