sábado, 2 de maio de 2020

BALADA – Jamil Almansur Haddad



Eram duas, mãe e filha,
Rosalina e Rosmanilha.
A pequena, pobrezinha!
dia a dia mais definha.
É grande, trágica a fome
que Rosmanilha consome.

E a menina à mãe aflita,
cheia de lágrimas, grita:
"- Mãezinha, tem compaixão!
Tenho fome! Eu quero pão!"

E a mãe triste à sua filha:
"- Não te aflijas, Rosmanilha!
A tua dor é sem nome,
mas eu vou saciar-te a fome."

E lá vai a desgraçada,
taciturna pela estrada...
Onde irá buscar o pão
à filha do coração?

Mas uma ideia domina
a sombria Rosalina:

Ela iria até à cidade
e cheia de alacridade,
cercada das infelizes,
corrompidas meretrizes,

Rosalina cantaria,
para os homens dançaria...
E assim obteria o pão
à filha do coração...

E na hora do amanhecer
houve em casa o que comer.

Quando foi da estação fria,
Rosmanilha imploraria,
olhos doridos de pranto:
"- Tenho frio! Eu quero um manto!"

E Rosalina lhe diz:
"- Para cobrir-te, ó infeliz,
esta noite eu dançaria
até ao despontar do dia..."

Nascendo a manhã tranquila,
Rosalina foi vesti-la
com um gesto dorido e terno.

E quando veio outro inverno,
por um desígnio do céu,
Rosmanilha adoeceu.

A mãe deixa a filha doente
e vai dançar tristemente.

Quando veio a manhã doce,
com o remédio que ela trouxe,
Rosmanilha ficou sã.

Mas numa negra manhã,
quando o outro inverno chegou,

Rosmanilha transmigrou.
Desígnio torvo do céu!
Por que a pequena morreu?
Rosalina o que faria?
Rosalina cantaria?
Dançaria Rosalina 
para enterrar a menina?

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