terça-feira, 12 de maio de 2020

EMBEBIDA – Maiara Gouveia

E o nítido arranjo
dos lábios, um a um,
e o despudor de vê-los
inocentes,
desnudos num
ir e vir medonho,
embebedada duma
realidade úmida
e carnuda, a coxa nua
roça pele contra pele, o quase
encontro e desencontro
de mim dentro daquela fresta
que ora sobra, ora se insinua
num abre e fecha; as pernas
embaraçadas sob a mesa,
a sombra trêmula
dos pés no chão, o torso
dele na camisa
entreaberta, a cabeleira
em caracol evoca
a noite estrelada
em Holanda brilhante
e turbulenta,
e o deleite ainda evola
feito de um gole de absinto.

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