domingo, 31 de maio de 2020

OLHA, CRIANÇA – Decio Bar

Olha, criança, que mordes a lua
como se fosse uma certeza.
A noite é sobre ti, criança, moldura
de panteras que teu cabelo ariscam,
e tangem tules cercando teus traços.
Junto à ponte trouxeste a chama,
e o vento tropeçou o lume
com sussurros de amante.
A flor que eu tinha era recorte de soçobro,
meu canto - vaga vela, retas rotas
pássaro inconsútil, cansaços prudentes.
Dos vitrais ensaiamos a Estrela,
de flores inventamos Orientes,
nossos pés descalços ritmavam folhas
em nossos passos.
Nos muros, aranhas teciam tempo e medo,
fisgando teu olhar cósmico
promontório raso que a maré agasalha.
A leste da estrela a flor tornou-se hera
o tempo das águas gastou-se na espera
e do grito selvagem
da furna adiada
do vôo do vento
crestou-se a ramagem.
Ah criança que mordes a lua
como se fora uma certeza.

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