domingo, 17 de maio de 2020

NOTÍVAGO - Regis Gonçalves

O estrépito da noite
acordou meus ouvidos.
Era a volúpia da noite lambendo a cidade
e seus pés de barro.
Talvez fosse exato resmungar
e dormir de novo
abraçado à névoa dessa sombra.

Mas grandioso era o campo de luzes
irradiadas de teu corpo
penetrando-me. Meu toque
trêmulo despedaça
o mapa da cama: acordo-te.

Impossível pensar a hora
a direção do vento, o signo
predominante do zodíaco.

Irisadas, tuas cores
banhavam o coágulo do meu afeto.
Eras simples e terna
como um cachorro sem dentes.

O ar sabia a fumo e mostarda.
Ingênuo, te perseguia
na motocicleta de meus sonhos.

Inutilmente tento reconstruir
a pulsação do instante
feito de barro e chamas
cavalos que cruzam os céus
gládios de anjos anunciadores
e pivetes insones sob as marquises.

Nenhuma astúcia
desvenda o sentimento guardado
a sete chaves no cofre
de que talvez saibas o segredo.

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