sexta-feira, 29 de maio de 2020

CANÇÃO NEGREIRA – José Craveirinha

Amo-te
com as raízes de uma canção negreira
na madrugada dos meus olhos pardos.

E derrotas de fome

nas minhas mãos de bronze
florescem languidamente na velha
e nervosa cadência marinheira
do cais donde os meus avós negros
embarcaram para hemisférios da escravidão.

Mas se as madrugadas

das minhas órbitas violentadas
despertam as raízes do tempo antigo ...
mulher de olhos fadados de amor verde-claro
ventre sedoso de veludo
lábios de mampsincha madura
e soluções de espasmo latejando no quarto
enche de beijos as sirenas do meu sangue
que meninos das mesmas raízes
e das mesmas dolorosas madrugadas
esperam a sua vez.

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