VOCÊ, OUTRA
você, outra
porcelana fria que se quebra
ao vento, trevo de três folhas
nascida indesejada
raiz frouxa sobre a terra.
Você, outra
echarpe dada por mamãe
delicada trama de rayon
tecida por máquinas nostálgicas
da era das orquestras no cinema mudo.
você, outra
que se entende pedra
compreende o adeus das folhas
que não morreram, mas vão indo
fazendo cócegas nas rótulas pontudas das poetas.
..............
QUANDO EU ERA VOCÊ
Me sigo pela casa com cuidado
não quero me assustar porque sou outra
agora,
enquanto você dança envolta em poeira solar
eu me escondo à sombra dos meus dedos tortos
uma aranha sobe a parede
mnemosyne, ela se chama
tem sujeira sob as patas e é lenta
como os passos de um inimigo perverso
ninguém se perde numa floresta sem motivo
ninguém guarda no livro uma flor
sem o desejo do eterno
me leve para outra dimensão
onde não exista o tempo
somente o cheiro das noites agrestes, do musgo
do sabão nos lençóis ainda úmidos
todo o seu pequeno mundo murmurando
uma sinfonia de árvores e solidões
segredos que crescem no interior de uma fruta
suculenta de futuro, eles não te ouvem
porque têm pressa e você nada fala
um elo foi quebrado e o que resta
é o significado da palavra hereditário
eu te persigo porque respiro conflitos e culpas
ainda encontros escorpiões no jardim e paraliso
enquanto constelações explodem meus pensamentos
me desculpe, há coisas que não entendo
quando eu era você como era o silêncio?
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