segunda-feira, 27 de setembro de 2021

TRÊS POEMAS – Alexandra Pzarnick

 

Tradução de Luís Araújo Pereira
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O MEDO

No eco de minhas mortes
Ainda há medo.
Sabes tu o que é o medo?
Sei do medo quando digo o meu nome.
É o medo,
o medo com chapéu negro
escondendo ratos em meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco de minhas mortes
ainda há medo.
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SONHO

Rebentará a ilha da lembrança
A vida será um ato de candura
Prisão
Para os dias sem retorno
Manhã
Os monstros do bosque destruirão a praia
sobre o vidro do mistério
Manhã
A carta desconhecida encontrará as mãos da alma
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FILHAS DO VENTO

Vieram.
Invadem o sangue.
Cheiram a plumas,
a carência,
a pranto.
Mas você alimenta o medo
e a solidão
como a dois animais pequenos
perdidos no deserto.

Vieram
incendiar a idade do sonho.
Um adeus é sua vida.
Mas você se abraça
como a serpente louca do movimento
que só se encontra a si mesma
porque não há ninguém.

Você chora debaixo do seu pranto,
você abre o cofre dos seus desejos,
e é mais rica do que a noite.

Mas há tanta solidão
que as palavras se suicidam.

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