segunda-feira, 6 de setembro de 2021

JEU – Olga Valeska

As cartas estão na mesa
rei e rainha caindo no feltro escuro
perplexos
por se encontrarem juntos
olhando-se …

Surpresos com a dança inesperada
de peões torres e hibiscos.

O sol filtrado do vidro
refrata a cor fraturada
de cristais gelados.
(Tudo pode se romper
em um instante assim...)

… e um cetro pode muito pouco
quando o corpo treme
e a voz se cala
em soluço.

Sabe-se
(o eterno louco sempre sabe)
que as peças se movem
a despeito do pulsar das veias
de algum rei.

Que o baralho sempre cai
em castelos improváveis
dos dedos anilados
de uma dama qualquer.

Qual o domínio de uma torre
sozinha
no tabuleiro de confeitos?

Confetes ao alcance de mãos
(sempre vazias)
uma oferenda morta.
um olhar que vasculha
as copas violadas de medos
cobertos de pó e
escaras.

Espadas de vidro
que teimam
em ocultar a lâmina
lacerante de um lamento

E o sangue que escorre
além da vida e da morte?

Além do olhar
do rei e da rainha
que, na surpresa de serem pedras
de um jogo alheio,
morrem
e matam
e imploram
por se olharem assim.

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