sábado, 11 de setembro de 2021

POEMAS – Marilize Bentes

 

I

Eu preciso sair pra vida
Botar roupa de viver
Pra desintoxicar
Eu tô farta de paredes e tetos
Tô farta de mim
Porque eu, em excesso, sou demasia
Eu preciso do outro
Do ar
Dos ares
Das canções das ruas
Do vento importunando meus cabelos
Eu não gosto de vento
Preciso de vento
Preciso do céu
Sem quadrados
Sem telas
Sem distâncias
Estou farta de mim
Não é pessoal, juro
Juro pela minha dor
Pela minha falta
Pela minha saudade
Preciso do mundo
Dos corredores
Da minha mesa emprestada
Do sussurrar dos livros
Dos insights
Dos orgasmos acadêmicos
Do maldito prazo
Da agonia
Da luta
Da procrastinação legítima, não imposta
Da lida
Da utopia
Encontros
Pessoas
Carne
Tô com saudade dos cafés
Poéticos
Confidentes
Terapêuticos
Do barulho das bandejas
Da música tocada
Dentro e fora da gente
Burburinhos
Gargalhadas
Lamentos solitários
Estamos solitários
Detesto vídeos
Eles doem
Implicam saudade
Implicam distância
Sou eu, distante
Vídeo, distância, saudade, paliativo
Tô farta do ciclo
Tô precisando sumir
De mim
Do exagero de mim
..................
II

As pessoas bebem pra ficarem sóbrias de si
As pessoas fogem, do mundo,

do ritmo, pra caírem em si
As pessoas pensam, resvalam,

se equilibram, se entorpecem
Porque não dá
A histeria calada, surda, contida,

dissimulada, pra disfarçar

Eu, tu, a lua, metade, presente
Choro, desgosto, incógnita
Dolência

Grita, cresce, voa
Tu, que acende estrelas, e me sustenta
Com teu ombro, escuta, alento

Suporta, se ergue
Confia
No teu
Imenso, largo, encantador

Se não fosse tu
Se não fosse o teu
Eu
Esses versos não te escreveria
Por isso, respira
Acolhe-te
Rega-te, de luz, de ser,
Porque a nossa força
Soma

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