sexta-feira, 3 de setembro de 2021

PRAÇA DA ALFÂNDEGA – Maria do Carmo Campos

 

Engraxate,
quase pintor
teu passo
instalado
na praça.

A foto devolve as têmperas
com que dás limpeza
e polimento à vaidade
dos que sentam ao teu serviço.

No trono
creem elevar-se
sobre a tua altura.

Mais que engano!

És dignidade alçada
na manhã por nós
precavida.

Quem polirá os teus pés
à espera do primeiro
que virá?

São camadas de alvura
na transparência das pisadas
claros desígnios
resíduos de graxa.

Quando te foto-grafo
vejo as têmporas
sobrecamadas
do que guarda a memória
dos sapatos.

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