CRÔNICA
Nenhuma lâmina corta mais que a do domingo:
que ela separa
o vento da palmeira, o sol de seu calor
o carro de quem dentro,
o cão
de seu latido.
Nenhuma tão feroz, e tão exata,
e tão moral que ela separa
o tédio do cansaço,
o prestes do irrecuperável,
o som da coisa que lhe é inata.
Nenhuma tão senhora, embora ainda antes de golpeada:
que ela constrange os objetos,
lhes ameaça o excesso e os conflagra,
que em que não há cortar
é onde mais se farta.
................
O GRITO
Há sempre um fiorde e uma ponte
em toda a vertigem humana,
e sempre essas nuvens em chama
no som da palavra horizonte.
Há sempre um fiorde, uma ponte,
dois homens de negro e o louco,
e curvas no espaço amplo e pouco,
e ser nesse andrógino instante.
Há sempre dois barcos que somem
além do fiorde e da ponte
que brumas tão rubras consomem.
E nesse grito a que ninguém responde,
há sempre esse eco bifronte,
esse espaço sem quando, esse tempo sem onde.
...........
OS MORTOS
Os mortos não tomam chá
nem sentam
ao piano esquecido aberto.
Os mortos não velam
nossas horas debruçadas sobre suas gavetas.
E, se interrogam fundamente o outro lado do espelho,
sequer nos reconhecem.
Os mortos ficam mortos porque assim se concebem.
E há muito trocaram os porta-retratos
por outras formas, mais refinadas, de desprezo.
Nenhuma lâmina corta mais que a do domingo:
que ela separa
o vento da palmeira, o sol de seu calor
o carro de quem dentro,
o cão
de seu latido.
Nenhuma tão feroz, e tão exata,
e tão moral que ela separa
o tédio do cansaço,
o prestes do irrecuperável,
o som da coisa que lhe é inata.
Nenhuma tão senhora, embora ainda antes de golpeada:
que ela constrange os objetos,
lhes ameaça o excesso e os conflagra,
que em que não há cortar
é onde mais se farta.
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O GRITO
Há sempre um fiorde e uma ponte
em toda a vertigem humana,
e sempre essas nuvens em chama
no som da palavra horizonte.
Há sempre um fiorde, uma ponte,
dois homens de negro e o louco,
e curvas no espaço amplo e pouco,
e ser nesse andrógino instante.
Há sempre dois barcos que somem
além do fiorde e da ponte
que brumas tão rubras consomem.
E nesse grito a que ninguém responde,
há sempre esse eco bifronte,
esse espaço sem quando, esse tempo sem onde.
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OS MORTOS
Os mortos não tomam chá
nem sentam
ao piano esquecido aberto.
Os mortos não velam
nossas horas debruçadas sobre suas gavetas.
E, se interrogam fundamente o outro lado do espelho,
sequer nos reconhecem.
Os mortos ficam mortos porque assim se concebem.
E há muito trocaram os porta-retratos
por outras formas, mais refinadas, de desprezo.
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