POEMA DE ABRIL
O barco era belo
rasgaram-lhe as velas,
intrusos cuspiram
no seu tombadilho
e o homem sem barco
seguiu pela estrada
com ondas redondas
rolando nos pés.
Gastou os sapatos
de tanto horizonte,
quis beijar a vida
ninguém o deixou,
quis comer, quis beber,
disseram que não,
sentiu-se doente
mas não tinha cama.
Soprou temporais
no sangue, nas veias,
e todo o seu corpo
foi fúria e foi quilha,
cercaram-no logo
com altos rochedos
e o homem sem barco
teve que evitá-los.
Na estrada sem nada
dos tristes humanos
com pernas-farrapos
o homem lá vai,
sem eira nem beira
de bolsos vazios
com os olhos ocos
marejados de mar.
....
SONETO DA METAMORFOSE
Mãos, simples mãos, moldaram os meus versos
e pés humanos pisam o que escrevo.
Aos outros que conquistem universos
e a mim que pague ao povo o que lhe devo.
Mesmo que os dias sejam adversos,
é um trevo a missão a que me atrevo,
dia e noite seus gestos são diversos
- detesta a noite, de dia abre-se o trevo.
Abre-se como o pranto, como as fontes
que irrompem das montanhas e dos montes,
descem os vales, vão até às casas...
Um soneto estremece a manhã cálida
e o povo, num silêncio de crisálida,
forja, no sofrimento, as suas asas.
O barco era belo
rasgaram-lhe as velas,
intrusos cuspiram
no seu tombadilho
e o homem sem barco
seguiu pela estrada
com ondas redondas
rolando nos pés.
Gastou os sapatos
de tanto horizonte,
quis beijar a vida
ninguém o deixou,
quis comer, quis beber,
disseram que não,
sentiu-se doente
mas não tinha cama.
Soprou temporais
no sangue, nas veias,
e todo o seu corpo
foi fúria e foi quilha,
cercaram-no logo
com altos rochedos
e o homem sem barco
teve que evitá-los.
Na estrada sem nada
dos tristes humanos
com pernas-farrapos
o homem lá vai,
sem eira nem beira
de bolsos vazios
com os olhos ocos
marejados de mar.
....
SONETO DA METAMORFOSE
Mãos, simples mãos, moldaram os meus versos
e pés humanos pisam o que escrevo.
Aos outros que conquistem universos
e a mim que pague ao povo o que lhe devo.
Mesmo que os dias sejam adversos,
é um trevo a missão a que me atrevo,
dia e noite seus gestos são diversos
- detesta a noite, de dia abre-se o trevo.
Abre-se como o pranto, como as fontes
que irrompem das montanhas e dos montes,
descem os vales, vão até às casas...
Um soneto estremece a manhã cálida
e o povo, num silêncio de crisálida,
forja, no sofrimento, as suas asas.
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