quarta-feira, 20 de abril de 2022

DESPEDIDA - István Jancsó

 

As gaivotas voltaram.
Mas a sua volta não foi triste
Como eu esperava,
Nem alegre como eu esperava.
Para mim apenas voltaram.
Gaivotas.
Não fui vê-las apesar de espera-las.
Sabia que voltariam um dia.

De início ansiava por sua volta,
E sonhava com a sua volta,
E olhava o horizonte
Quem as traria de volta.
Procurava lembrar-me da despedida
E lembrei-me de que não houve despedida.

O tempo foi passando,
Foi passando,
Lento primeiro,
Rápido depois.
E eu me assustei com o passar do tempo.
Para que forçar o tempo?
Eu sabia que elas voltariam.
Mas o tempo foi passando,
Passando,
Correndo,
Voando.
Comecei a sentir medo de sua volta.
Voltariam com quem?
Para quem?
Por quem?
E procurava as respostas
De dia,
De noite,
E buscava
E não encontrava.
E perdi o medo,
Mas sabia que elas voltariam
Com alguém,
Para alguém,
Por alguém.
Mas já não sentia medo das respostas.
Não sentia medo
Nem ansiedade,
Apenas esperava.

Esperava.
Porquê?
Por hábito talvez.
Habituei-me a amá-las,
A sonhar nas suas asas,
A voar com elas.
Elas partiram mas o hábito ficou.
Hábito de esperá-las de volta.
Daquela partida sem despedida.

As gaivotas voltaram.
Não fui vê-las
Apesar de esperá-las.
Sinto que a sua volta
Significa para mim
A triste despedida que não houve.

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