sábado, 2 de abril de 2022

POEMAS de Jhenifer Silva

 

DAS CONSIDERAÇÕES

bem sei que ninguém compõe poemas
como um velho cego
e que nenhum éden uiva nos ossos o amor
sei que todo cheiro exalado do ventre
cheira a cimento e a sede
sei que vejo, meu filho, um moleque
descalço com o cajado dos desejos
a dançar é a serpente enfeitiçada
pela canção jamais composta:
dos dedos - segredos
das íris - suor
sei que outras histórias mais
se aniquilarão na grande selva
e que nada poderá impedir
outra coisa não me resta então
que esculpir o nome das ervas
todas as mil que conheço
no dorso dos teus dentes brancos
..............
O VENTO

o vento nas folhas
faz mexer poemas
então adormecidos

escuto a fim de colher
o farol desobediente
de todas as plantas

a língua atenta ao som
estuda o quintal até sair
gasta: inteiramente suja

entende com precisão
a dimensão do corte
a expressão da carne
a vala funda na qual
está a palavra medo
.............
ALGUM NOME PARA ISTO

chamar esta mata de planta ou de casa
plantar esta casa e chamá-la de canto
de reza de estrada de uma entidade qualquer
nem se termina a planta e já é uma casa onde se habita
na brancura ofuscante e indelével das paredes
na ausência de vigas e teto - o pranto da floresta
encontra as migalhas hostis da mísera existência
tão indiferentes aos privilégios da luminosidade
meus troncos se cobrem de lábios mui quentes
dos quais saem duros e belos ruídos
cada melodia estilhaça tudo em mil
caindo-se a terra, podemos existir

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