segunda-feira, 4 de abril de 2022

OLÁ, PEQUENO MONSTRO DO DIA - Claudinei Vieira

 

olá, pequeno monstro do dia
que cresceu durante a noite e o coração
com suas garras de cotidiano e esmagamento
com sua fileira de dentes reais
olá, pequeno monstro do dia
com sua chuva de arrependimentos
com sua bolsa de horrores aberta
e cada pequeno verme saído da bolsa
com seus próprios dentes reais
cotidianos recorrentes comuns
sangrantes
a roer nossos pescoços duros
a cada passo nosso
a cada respirada nossa
a cada desejo remontado
olá, pequeno monstro do dia
que não se esconde em vielas
e não tem vergonha de se expor
que não se refugia na escuridão
[ não precisa mais se esconder nas sombras ]
até se orgulha de mostrar a língua podre
o sexo podre a mão podre o gozo podre
olá, pequeno monstro do dia
a nos mastigar o fígado
o sexo a mão o gozo
e ainda exige que sejamos
(ou digamos que somos) felizes
completos
maduros
adultos
ou humanos
pois sabe, e como sabe!,
que somos nós mesmos
que o criamos e cuidamos e alimentamos
pois sabe, e como sabe!, e como sabemos!,

que nunca seremos felizes completos
maduros
adultos
ou, simplesmente, humanos

olá, Pequeno Monstro do Dia
olá

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