quarta-feira, 20 de abril de 2022

POEMAS de Salvatore Quasimodo

 

Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti
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ÁRIES

No lento girar dos céus
a estação se revela: ao vento nova,
à amendoeira que aclara
planos de sombra aéreos
nuvens de sombra e searas:
e recompõe as vozes sepultas
dos álveos, dos fossos,
dos dias de graça fabulosos.

Todo o mato se espalha,
e uma ânsia de gélidos loureiros desnudos deuses pagãos
se apossa das águas remotas;
e ei-los que se erguem do fundo de entre os saibros
e invertidos dormem celestes.
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ÁGUA PARADA

Água parada, sono dos paludes
que em largas manchas secretas venenos,
ora branca ora verde sob os raios,
és como a minha alma.

Se acinza o choupo em volta e o azinheiro;
dentro se quietam folhas e sementes,
cada uma tem suas camadas concêntricas
esfranjadas pelo sombrio zunir do áfrico.

Assim, como na água se alargam
os anéis da memória, meu coração;
desprende-se de um ponto e logo morre:
assim, de ti é irmã água morta.
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TERRA

Noite, serenas sombras,
berço de ar,
chega-me o vento se por ti divago,
com ele o mar cheiros da terra
onde canta na praia minha gente
às velas, às nassas,
às crianças antes da aurora despertadas.

Montes secos, planícies de relva nova
que espera manadas e greges,
tenho dentro o vosso mal que me escava.
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ANTIGO INVERNO

Desejo de tuas mãos claras
na penumbra da chama:
sabiam a roble, a rosas;
a morte. Antigo inverno.

Buscavam milho os pássaros
e eram súbito de neve;
assim as palavras.
Um pouco de sol, um halo de anjo,
e logo a névoa; e as árvores,
e nós feitos de ar na manhã.
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PENA DE COISAS QUE NEM SEI

Densa de brancas e de negras raízes
cheira a fermento e a vermes
a terra talhada d´água.

Pena de coisas que nem sei
em mim rebenta: não basta uma morte
se, escuta, mais vezes me pesa
no coração, com sua relva, um pedaço de terra.
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ESPELHO

E eis que do tronco
rompem-se os brotos:
um verde mais novo da relva
que o coração acalma:
o tronco parecia já morto,
vergado no barranco.

E tudo me sabe a milagre;
e eu sou aquela água de nuvens
que hoje reflete nas poças
mais azul seu pedaço de céu,
aquele verde que se racha da casca
e que tampouco ontem à noite existia.

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