segunda-feira, 25 de abril de 2022

POEMAS DE Adriana Florio Cairo

 

O ANO SEM FIM

Tudo parece irreal,
Tamanha a realidade de tudo.
Rugas incrustaram nos rostos,
Agarraram-se a nossas almas.
Nós não cantamos parabéns,
Mas nunca nos sentimos tão velhos.

Fizeram-se cicatrizes nos peitos
E a dor nos tomou por morada.
Ausências se fizeram presentes;
O efêmero virou eterno.,
Pó e nunca mais.

O novo tornou-se velho;
O velho virou novo.
Existiu um réveillon
Mas o ano não acabou!
.....................
SONETO DA DESESPERANÇA

Esquecer-me eu deveria
E me esforço pra entender
Podia tudo, e o queria
Crescer, amar, transcender!

Seus sonhos eram tão lindos
E agora nada restou
Desespero vendo findos
Valores que dia prezou.

Meus olhos correm em torno
E um caminho só de ida
Vejo você percorrer.

Precisa haver um retorno
Que em toda história de via
É possível se fazer!
.................
OS OLHOS DE MEU FILHO

Quando vejo os olhos tristes de meu filho,
Vejo todos os meus erros, conhecidos e não.
Um vazio me rasga de cima a baixo.
Sinto a impotência de um amor sem fim,
E me desespero!
Os olhos de meu filho têm poder
De vida e morte, tortura e mansidão.
Às vezes, me elevam ao céu
Com uma ternura quente, profunda e visceral.
Às vezes, esfregam minha alma no chão.
Sobram fiapos de carne viva
Que não consigo remendar
E feneço.
Os olhos de meu filho têm poder
De céu e inferno, esperança e aflição.
Todos os dias, meus olhos se erguem aos céus
E rogo para serem
Apenas e mais nada
Os olhos felizes de meu filho que eu veja
No dia em que os meus anoitecerem!
....................
À FLORIBELA

Tua alma atormentada é também minha
Como meus são teus pecados
E todo o desespero, loucura e demência.
Grito contigo quando pede socorro
E me calo contigo quando sangra por dentro.
Sangramos.
Somos uma mesma alma intensa a ingerir comprimidos
Pra anestesiar a vida.
Também nunca fui a favorita
E essa sanha de entender o porquê
Nos fecha num mundo só nosso
Em que há saudade dos nadas vividos
E angústia pelos nadas que virão.
Tua alma pelo mundo atormentada
Sabe-se, por ele, também culpada
Pois erras ao viver tuas fantasias
E morres ao não fazê-lo.
Por fim, nos acostumamos a se sós,
A gente faz de conta que não dói
E toma mais um comprimido.

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