sexta-feira, 1 de abril de 2022

QUATRO POEMAS de Jeanine Will

 

ABAJUR

a nave da noite pousa na terra
vermelhos queimam velozes
os olhos da cidade devoram arrazoados

deixa tua máscara de lado
mergulha no azul deste quarto
queima teus lábios na ponta dos meus dedos
arranha tuas mãos nas minhas palavras
deita teu ouvido sobre este sussurro
pisa de leve na pista
abre teu zíper até a angustura
dança de costas pro abismo

as sombras são apenas sóis introspectivos
...................
DESEJO NOIR

vai-se o dia retocando a escultura da tarde

entre a cortina de fumaça que ondula
ao sabor das (res)pirações
e olhares que se cruzam

nossas bocas são barcos ainda ancorados
às margens de nossas palpitações
.........................
CONTINUAÇÃO DA NOITE SEM VOCÊ

num curto espaço
nos encontramos
ao longo do vento
nos adivinhamos
em sílabas ainda
o mundo soletrado
com calma e cuidado

mas a haste do tempo entorta
e nos percebemos frágeis
seres de mãos duras demais
o mundo gira torto
em torno do meu pescoço
no meu corpo, no seu corpo: arestas
e agora esse silêncio que não presta
....................
DESARRUMAÇÕES DO DIA

o que nos prende
o que de nós pende
o que dá sentido
aos olhos grudados no teto
aos objetos perdidos
às horas quebradas
aos intervalos sem palavras
mas cheios de afeto?

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