segunda-feira, 18 de abril de 2022

PRÁXIS AMANDI – Olímpio Bonald Neto

 

Na práxis de então
bem pouco se aprendia
com as vagas teorias
da chula sacanagem.
Quase sempre havia alguém
que não gozava
e se perdia
no meio da viagem.

Hoje se sabe,
de Kama Sutra e Sade
passando de Ovídio as Barbarela
por dentro de Vinícius de Morais,
que amar é arte requintada
e há de
melhor acontecer a quem mais sabe.

Começa-se a bolina pelos olhos
ou pela planta dos pés
- que tanto faz -
mas que se o faça como quem não quer

Que se tateie - muito de leve e manso -
por cada canto da pele o corpo inteiro
e sempre no sentido
inverso ao da penugem

Bem lentamente caia nos declives
e nos velados mais fundos e escondidos.
Teça, com os dedos leves, pelo a pelo,
a trama do prazer,
roçando e eriçando cada uma
das papilas digitais - as mais sensíveis
desde os agudos picos aos mais túmidos
e úmidos abismos,
como se cada polpa de dedo fosse língua.

Não se abandone então..
Não perca o tino,
que o pássaro do espasmo é fugidio,
e cansa de voar
nas brumas da emoção
do ser em cio.

Daí por diante
passe a refletir
à frente dos espelhos,
e crie - a dois ou a dez
todas as formas de ir
e posições
passíveis das possíveis
contorções.

Prossiga nos caminhos da surpresa
e não se escandalize
se a resposta vier maior que a empresa.
Pois que, por suas mãos
os deuses são,
e não se sabe onde
explodindo seus próximos desejos.

E tendo tudo isto posto,
tome todo tento à tentação
de sua companheira.

E, se tiver força e sã ciência,
refreie os seus ginetes,
sorva a seiva que lhe molha os lábios
inspire fundo,
até que a égua úmida, esgotada,
deliquefeita e mais deliquescente
estanque o seu galope,
e se abandone, como quem se esquece
da própria servidão
da vida e morte,
na relva dos lençóis.
E então comece.

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