quarta-feira, 27 de abril de 2022

POEMAS de Renato Mazzini

O ÚLTIMO VERÃO DE NOSSOS INIMIGOS

Tenho uma mão boa
e essa mão desempenha bem
com uma faca
sobre troncos de árvore e sobre
meu próprio coração

Tenho um olho bom
e esse olho desempenha bem
com uma luneta
perseguindo obsessivamente
a tolice da terra firme
................
SOPRO

Talvez fosse possível expandir
a permanência do verão
intervindo com medicamentos.

O céu azul limpo à maneira
das rodoviárias, medido
por sua distância horizontal,

emoldurado
por finas bordas apodrecidas.
............
A ÚLTIMA

O Fantasma de Uma Ideia chega,
pendura chapéu e casaco, senta-se
e me pede um copo d’água. Sirvo

também um café. Repassamos o
plano, pegamos as malas, entramos
no carro e partimos. Aceleramos

o carro, rampamos o píer, o carro
cai na água, as janelas estão abertas.
...................
ESCALAS

A cidade vista de cima
é um ramalhete destroçado por cães

A cidade vista de baixo
é um sacramento a punhos cerrados

Onde foi que você ouviu o nome
daquela canção que fazia

tudo parecer significar alguma coisa
(sem ter ouvido a canção)
...........
NOTURNO COM LACUNA

Uma mente que veste
casaco com capuz,
calça um par de tênis
e corre.

(A cidade inteira, o mundo inteiro).

Uma madrugada seria
arremessável de um prédio
sufocável com martelo
quebrável com um travesseiro?

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