quinta-feira, 14 de abril de 2022

POEMAS DE Líria Porto

 

DA ÚLTIMA VEZ

eu te queria
quero-te ainda...

meu coração fogareiro
ao ver-te tão sorrateiro
faz canção de bem-te-vi
e ao som de um bolero
no laço do teu abraço
vira flor de sabugueiro
cheiro de mato
capim bravo...

com a sede do deserto
pede água
chega perto
rodopia
tem vertigem
tem inocência de virgem
recebe a ti
todo
inteiro...

não desmaiei
eu morri...
................
PREDESTINADOS

nas teias
nas brenhas
nas entranhas
o mistério
o destino
a sina...

eu não mais te esperava
esculpiste sozinho
a tua vida
e cá estamos nós
olhos nos olhos
bebendo do mesmo copo
na mesma esquina...
............
ANOMALIA

essa cidade medusa
execrável como os medos
ódios misérias injúrias
a megalópole se expande
assusta igual o demo

essa cidade monstro
tão cruel quanto a fome
abocanha mastiga cospe
tal fôssemos bagaço de cana

essa cidade infortúnio
avilta destrói tritura
transforma tudo e todos
em disforme pasta urbana
..............
DESASSOSSEGO

a desconfiança a dúvida
não se saber do amanhã
a vida sem corrimão
o medo a causar angústia
dores de cabeça úlceras
não resolvem não adiantam
só quando o agora surge
aparecem soluções

escapam de quaisquer planos
as certezas do futuro
que então os dias fluam
cada coisa cada uma
tem a dimensão que damos

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