domingo, 29 de maio de 2022

E RIR À SOLTA E NÃO MORRER – Ricardo Aleixo

 

Poder morrer
Ainda no ventre

da mulher
que me pariu.

E não ter
morrido lá.

Poder morrer
de algum veneno

que alguém
insuflou num fruto

que eu menino
colheria enquanto

brincava sozinho.
E não morrer.

Poder morrer
Adolescente sob

as patas distraídas
de uma esquina

de domingo.
E rir à solta e

não morrer.
Poder morrer

num dia quente,
tudo já seco

por dentro, e a
cidade e o mundo

alheios. Não morri
num dia assim.

Poder morrer
de tantas formas

e não ter morrido
nunca nenhum

desses tantos anos
que eu vivo

aqui entre
os humanos.

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