terça-feira, 10 de maio de 2022

POEMAS de Mírian Freitas

 

DA MORTE

Quando a morte chegar a esta casa
não ameaces o silêncio com o choro convulso.
Vá até o pomar e colhe frutos
aperta entre os dentes as peras
e os figos
mentaliza todas as flores amarelas
acaricia a lágrima da ausência
deita-te sobre a relva e lembra-te dos pássaros
e do arder do vento
entre as árvores e as águas
que se repetem.
.......
FLUXO

Entre nuvens, cascalhos, águas, répteis,
te sei. Sobrevivente da sina encurtada
nas linhas da palma
és a versão única de perdão e nobreza
− vento que toca meu rosto
asa de ouro, cabelos de cobre
braço do rio.
Após o tempo dos dias ruins
nenhum segredo a mais posso te contar
depois que tu me disseste que
o amor não morre nunca.
.......
VOZ-FÊMEA

Tuas costas negam qualquer espécie de perdão.
Quem haveria pecado mais do que eu,
do que tu mesmo?
Possuímos o crânio da ilusão.
O poema se exilou para além dos muros
das abóbadas do Taj Mahal.

O pássaro tardio leva no bico a semente
de mostarda
o pelicano celebra na sombra
as desvantagens do amor,
o suplício de um dialeto novo,
o desejo da palavra loucura.

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