segunda-feira, 9 de maio de 2022

POEMAS de Carine Araújo

ANARQUIA

A rebeldia que nos alimenta
Vem talvez do fel
Derramado pela serpente adâmica
Vem talvez da morte
De heróis que não se sabiam
Vem talvez da dor
De crianças desnascidas
Vem talvez de nós
E dessa vontade incontrolável
De ser
.......
DELÍRIOS DE NOITE E MEIA

Imagens criptográficas
Em desenhos fosforescentes
Pendurados no ponteiro
Por sobre os rios de Cachoeira
Correm, tic-tac, sem parada
Até o hedonismo profundo do ser
Que se rompe e se contrai
Em pó, barro
E lançado no rio
Lama
.......
DRUMMONDEAR

Não farei versos do tamanho do mundo
Em meu coração já não cabem
E nem eu em mim mesmo
Não vou cantar recordações
De uma terra que nem conheci
Vou dizer a verdade das rosas
Que catei num caminho
Sem pedras
Vou anunciar a loucura
Contida em cada lucidez
E a cada momento voltar-me-ei para ti
E saberei que estás de pé
.......
ESPELHO, ESPELHO MEU...

Um dedo em riste
Nos diz que somos velhos
Gordos
Esquálidos
Antipáticos
Feios
Somos até etc. e tal
E o último espelho
Estilhaçado
.......
PARECERES NOTURNOS

A cidade preto-dourada
Em luzes de mercúrio
Ofusca os olhos dos casarões
Que tentam – das janelas -
Espiar o passado passando
O rio – que outrora embebedou suas ruas –
Imerge sombras
Que abarcam a locomotiva azul
Sangrando a cidade
Adormecida ao som do seu trilhar
Embalada em marés de ventos longínquos

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