segunda-feira, 2 de maio de 2022

NO BOSQUE - Luís Murat

 

Entro no bosque... Fulvas, zarelhantes,
Redes de insetos movem o ar cheiroso:
Fecham e abrem os cálices brilhantes,
Junto de um lírio branco e voluptuoso,
Rosas sanguíneas, como a palma fina
De tua perfumosa mão, querida!
O amor palpita e fulge-me à retina,
E em glaucos copos bebo o sol e a vida.
Comparo então esta existência agreste
À nossa antiga e plácida existência.
Tu cheia d´essa emanação celeste,
Que é aurora — no céu, n´alma — inocência,
De folha em folha o meu olhar vagueia
Sob tendas de errantes melodias,
Como de vaga em vaga uma sereia
Acompanhada pela ardentias...
Trilos de aves sussurram no arvoredo,
Como um sorriso de mulher que sonha,
Ou como um beijo a estremecer de medo
Na tua boca, túmida e risonha.
Flavas ondas de aroma em torno ondeiam>>>
Lhamas de prata colmam o ar silente,
E entre pâmpanos murmúrios gorjeiam
Os gaturamos amorosamente.
Parece que à magnólias entreabertas
Vêm beijar um deus loiro, de arco e flecha;
Porque há um ruído subtil de asas incertas,
E uma abre o cálix e outra o cálix fecha.
“Tens o sol”, digo então ao bosque, rindo;
“Tens a relva”, onde guardas os teus beijos,
E uma nápea em cada folha, ouvindo
De tua orquestra os módulos arpejos:
Tens crepúsculos róridos e ardentes
Que vêm cantar às margens dos riachos:
Caçadoras de lábios sorridentes
Com estrelas na testa em vez de cachos.
Donas e cavaleiros sobre a alfombra
Bebem e cantam árias abraçados;
Dás-lhes um véu de perfumada sombra
E suntuosos leitos perfumados.
Porém se ela viesse fulgirias
Como um soberbo e esplêndido castelo:
Que fantástico aspecto não terias
Iluminado pelo seu cabelo!...

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