QUO VADIS?
Amigos não resolvem minha solidão.
Amores não penetram em meu coração.
Assuntos não ocupam minha vastidão.
Nada na vida dá vazão a minha vida.
O leite derramado talha em desperdício.
O bicho aprisionado míngua em sacrifico
O passo compassado marcha ao precipício.
Tudo na vida é só senão a minha vida.
Enquanto abato o tronco e moldo a cruz dos ombros,
o mato toma conta do jardim dos sonhos.
Tanto na vida dá razão a minha morte! ...
Por quanto tempo um grito ecoa pelo vácuo?
Pra que defuntos faz sentido o fogo-fátuo?
Quanto na morte vale o vão de minha sorte? ...
.......
LONDRES
O vampiro chorou de fome e sede
de amor, sozinho em toda a madrugada.
Quando o sol levitou na manhã rasa,
como um fardo o vampiro deu-se à tumba.
Todo dia é-lhe igual: a sangue frio,
cai-lhe a circulação d'estro sinistro.
Mas a noite vampira é qual floresta
em carne viva! e... logo após, deserto.
Do canino ancestral, restou-lhe um uivo
- não por rasgar à lua a artéria seda,
mas a hiena a cavar na noite negra
o vazio que se o esconde nos espelhos.
O vampiro não teme o fim dos tempos:
o veio eterno que o alimenta é o medo.
.......
ENTRE O SONO E A VIGÍLIA
(soneto sonolento, ao dormir)
Na indolência do tempo, as horas morrem,
a madrugada avança seu crepúsculo,
um silêncio selvagem rasga o mundo,
e a vigília se abriga sob as pálpebras.
Um frio silente e aflito, quase um susto,
tão lépido quão lívido, perpassa,
que a imensidão do instante se revela,
e os abraços desfazem-se inconclusos.
Entre luzes e sombras vacilantes,
o assombro de mil séculos desvai-se,
e o espírito gazeia e se dissipa.
No espasmo mais recôndito do sonho,
o pássaro se furta da gaiola,
e o gato esconde o pulo entre almofadas.
.......
LUZ E BREU
(soneto sonolento, ao acordar)
Quando a luz da manhã penetra pelas fímbrias
da cortina, eu percebo a escuridão de tudo
sumindo pouco a pouco; em pouco tempo, o mundo
invade a solidão e rouba ao sonho a vida.
Quando a sombra de tudo assoma e expõe o corpo
e a mente ao modo cru, entre o sono e a vigília,
não há nada a versar, pois que já testa a língua
o amargo amanhecer para um poema roto.
Na sombra-e-luz do dia, a escuridão se abriga
sob os meus olhos, livre e plena de sentidos,
embora nem eu saiba o que isto significa.
À luz do dia, fecho os olhos, sonho e vejo:
se este verso pudesse, enfim, levar-me além
de mim, a escuridão saciaria o desejo.
Amigos não resolvem minha solidão.
Amores não penetram em meu coração.
Assuntos não ocupam minha vastidão.
Nada na vida dá vazão a minha vida.
O leite derramado talha em desperdício.
O bicho aprisionado míngua em sacrifico
O passo compassado marcha ao precipício.
Tudo na vida é só senão a minha vida.
Enquanto abato o tronco e moldo a cruz dos ombros,
o mato toma conta do jardim dos sonhos.
Tanto na vida dá razão a minha morte! ...
Por quanto tempo um grito ecoa pelo vácuo?
Pra que defuntos faz sentido o fogo-fátuo?
Quanto na morte vale o vão de minha sorte? ...
.......
LONDRES
O vampiro chorou de fome e sede
de amor, sozinho em toda a madrugada.
Quando o sol levitou na manhã rasa,
como um fardo o vampiro deu-se à tumba.
Todo dia é-lhe igual: a sangue frio,
cai-lhe a circulação d'estro sinistro.
Mas a noite vampira é qual floresta
em carne viva! e... logo após, deserto.
Do canino ancestral, restou-lhe um uivo
- não por rasgar à lua a artéria seda,
mas a hiena a cavar na noite negra
o vazio que se o esconde nos espelhos.
O vampiro não teme o fim dos tempos:
o veio eterno que o alimenta é o medo.
.......
ENTRE O SONO E A VIGÍLIA
(soneto sonolento, ao dormir)
Na indolência do tempo, as horas morrem,
a madrugada avança seu crepúsculo,
um silêncio selvagem rasga o mundo,
e a vigília se abriga sob as pálpebras.
Um frio silente e aflito, quase um susto,
tão lépido quão lívido, perpassa,
que a imensidão do instante se revela,
e os abraços desfazem-se inconclusos.
Entre luzes e sombras vacilantes,
o assombro de mil séculos desvai-se,
e o espírito gazeia e se dissipa.
No espasmo mais recôndito do sonho,
o pássaro se furta da gaiola,
e o gato esconde o pulo entre almofadas.
.......
LUZ E BREU
(soneto sonolento, ao acordar)
Quando a luz da manhã penetra pelas fímbrias
da cortina, eu percebo a escuridão de tudo
sumindo pouco a pouco; em pouco tempo, o mundo
invade a solidão e rouba ao sonho a vida.
Quando a sombra de tudo assoma e expõe o corpo
e a mente ao modo cru, entre o sono e a vigília,
não há nada a versar, pois que já testa a língua
o amargo amanhecer para um poema roto.
Na sombra-e-luz do dia, a escuridão se abriga
sob os meus olhos, livre e plena de sentidos,
embora nem eu saiba o que isto significa.
À luz do dia, fecho os olhos, sonho e vejo:
se este verso pudesse, enfim, levar-me além
de mim, a escuridão saciaria o desejo.
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