quarta-feira, 11 de maio de 2022

PERGUNTAS – Rafael Rocha

 

Onde estarão os velhos segredos
e aqueles medos
carregados dentro das noites?
Será que estarão mortos?
Será que estarão perdidos
ao próximo fim?

Onde estará você?
Onde estarei?
Onde ficarão as horas
criadas em nossos caminhos?
Será que estarão mortas?
Será que estarão perdidas
por não terem tido início?

Onde estará a poesia emotiva
ainda não recitada por mim?
Onde estará o verso de todos os dias?
Quem o esqueceu por aí?
Será que resolveram ser segredos
dentro das noites de meus medos?

Pergunto à mulher adormecida
e completamente nua ao meu lado:
– Por que não tens mais a mesma paixão?
– Por que agora és tão invernal?
Pergunto, pensando que talvez eu possa
declamar um poema novo para a multidão.

Nem sei se estou vivo por aqui.
Nem sei se tenho sangue no caminho
dos versos que pretendo escrever.
Talvez esteja esperando a resposta
sabendo que não virá
de forma alguma.

Por isso os meus olhos pousam
nas novíssimas mariposas
nas putinhas da internet
nas velhas putonas das avenidas
nas borboletas coloridas
nos vídeos pornográficos
nos filmes desvairados
nas indecências corporativistas
no meu país bananeiro
e todos gritam e gritam:
– Viva tua vida e esqueça essas coisas!

Por tal esquecimento gritado
minha carne proclama:
– A certeza de estar vivo
ainda perdura por aqui!

Perguntas vão...
Perguntas vêm...
Mas ninguém pergunta a mim
sobre as certezas dos medos.
Sabem o quanto esses segredos
preferem estar mortos
e esquecidos dentro das noites...

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