quarta-feira, 18 de maio de 2022

POEMAS de Nara Rúbia Ribeiro

 

GRAÇA

O meu para sempre
é provisório.
Sou viço falho de infinitos
Fagulha afogada de sonho
Ave aviltada de si.
Grito falhado,
sorte ufanada.
Mas onde sou vencida em tudo
um anjo mudo
me abençoa os nadas.
.......
CONFISSÃO

Sou devedora da Humanidade inteira.
Por isso, toda a dor do mundo me pertence
E não há sangue humano que não seja meu.

Sei, contudo,
Que não tenho olhos de medir
As engrenagens do Tempo.

Aquilo que o Eterno engendra
Não cabe na minha agenda.
E Ele me empresta os passarinhos
E a ternura das estrelas mortas.

Então caminho em paz pela vida,
Mesmo que a estrada me pareça torta.
.......
SEDE

Não é a água
que me dá a vida.
É a sede.

Já não podes ser a fonte
que sacia e reabastece
o lago profundo
que sou.

És minha sede.

Sei,
teu peito encerra vasos alados
transbordantes de sonho e de azul.

Mas
é no calor dos teus lábios
que sinto o gosto orvalhado do sol.
.......
SENTIDO

Eu quero mais é a dor de ser gente
e esse medo macabro de já não o ser.

Quero a angústia de quem sente,
se ressente por sentir,
mas se dói dos insensíveis.

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