Há cinco mil formas de se apaixonar
antes eu achava que eram duas
ou três.
Desde que acordo e abro a janela
como o primeiro afazer da manhã
me apaixono pelos dias
e noites na minha cama
quando as pessoas se tornam imagens
fantasmas, lembranças no escuro
depois que enfim adormeço
passam a ser sonhos claros
desenhos que traço nas margens
pessoas que deixei para trás
que nunca deixaram meus dedos.
Também tem as tardes inteiras
que passo com quem conheci
e devagar me apaixono
pelos traços firmes do rosto
que se movem e definem
enquanto falamos:
somos amigos – às vezes repito
para mim mesma e perco
um pedaço da conversa –
como somos amigos
e admiro as formas que fazem
os lábios para dizer.
Depois minhas próprias mãos
os livros que não terminei
habitam a escrivaninha
como se fossem presenças
muito antigas, ancestrais
de vidas que já morreram
que voltam para chamar
atendo, respondo depressa
aceito o que me lembraram
abro um espaço no peito
e me apaixono também
por essas almas penadas
que pedem pouco, me ninam
assistem o que divago
os olhos absortos nas prateleiras.
Mais ainda do que isso
tem outra coisa maior
que não sei como explicar
interpela, interrompe
acompanha pelo avesso
desmancha tudo o que digo
filtra as horas, limpa a casa
organiza os travesseiros
é como um centro sem forma
no qual demoro, de que me perco
para depois, se distraio,
devolver o que eu tinha jogado
me ensinar numa pressa distante
que nada vem antes da hora –
uma voz diz em tom baixo
sussurra de longe no ouvido
escutamos ali dentro
de um clarão fundo e bem fraco
me apaixono sobretudo
por essas formas estranhas
que descobri nesses anos:
recônditos subterrâneos
calada quase não procuro
ignoro, desconheço
deve ser assim que se faz:
aprendo e depois esqueço.
antes eu achava que eram duas
ou três.
Desde que acordo e abro a janela
como o primeiro afazer da manhã
me apaixono pelos dias
e noites na minha cama
quando as pessoas se tornam imagens
fantasmas, lembranças no escuro
depois que enfim adormeço
passam a ser sonhos claros
desenhos que traço nas margens
pessoas que deixei para trás
que nunca deixaram meus dedos.
Também tem as tardes inteiras
que passo com quem conheci
e devagar me apaixono
pelos traços firmes do rosto
que se movem e definem
enquanto falamos:
somos amigos – às vezes repito
para mim mesma e perco
um pedaço da conversa –
como somos amigos
e admiro as formas que fazem
os lábios para dizer.
Depois minhas próprias mãos
os livros que não terminei
habitam a escrivaninha
como se fossem presenças
muito antigas, ancestrais
de vidas que já morreram
que voltam para chamar
atendo, respondo depressa
aceito o que me lembraram
abro um espaço no peito
e me apaixono também
por essas almas penadas
que pedem pouco, me ninam
assistem o que divago
os olhos absortos nas prateleiras.
Mais ainda do que isso
tem outra coisa maior
que não sei como explicar
interpela, interrompe
acompanha pelo avesso
desmancha tudo o que digo
filtra as horas, limpa a casa
organiza os travesseiros
é como um centro sem forma
no qual demoro, de que me perco
para depois, se distraio,
devolver o que eu tinha jogado
me ensinar numa pressa distante
que nada vem antes da hora –
uma voz diz em tom baixo
sussurra de longe no ouvido
escutamos ali dentro
de um clarão fundo e bem fraco
me apaixono sobretudo
por essas formas estranhas
que descobri nesses anos:
recônditos subterrâneos
calada quase não procuro
ignoro, desconheço
deve ser assim que se faz:
aprendo e depois esqueço.
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