quinta-feira, 26 de maio de 2022

CARA METADE – Wilton Azevedo

 

Recorte
Teu rosto pela metade
Talvez se estranhe
Tanto quanto eu mesmo
Me estranhei
Por não
Achar bondade alguma em você
Nem um pavio de constrangimento
Que manteve
A pólvora acesa
Sem que confundisse em bondade...

Será mera coincidência
Ou pior,
Formalidade.

O tempo
Este não se encarrega de nada.

O protagonista
Somos nós
E é isso que dói.

Não são as palavras
Que esquecemos,

Os amores perdoados,

As paixões ainda
Em entranhas,

O perfume incrustado,

A voz que vem de outro cômodo
Chamando para aquela perna
Que sobra debaixo dos lençóis,

Somos nós mesmos
Tão humano e precário
Quanto nosso próprio imaginário
Tocando o céu da boca do outro
Com dedos curtos
Das horas vagas
Sem perdão...
Sem nada.

NADA

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