sexta-feira, 27 de maio de 2022

PERFUME - Nazarethe Fonseca

 

Seu perfume ficou na sala,
Mas você partiu.
Fico no trinco da porta.
No telefone que usou distraidamente,

Na caneta com a qual batucou impaciente.
No sofá, nas almofadas,
Onde cansado, adormeceu, enquanto me esperava.
Está sobre meu rosto, pois o acariciou longamente.
Misturou-se ao meu, e da nossa química ficou mais doce.

Espalhou-se pelos lençóis da cama

Como se fosse chuva de verão.
No travesseiro onde dormiu por uma, duas horas.
Em meu corpo que tocou faminto, saudoso.

E enquanto banho, lamento perdê-lo.
Ressinto-me deste desapego,
Enquanto a água cai rápida e mansa,
Eu lembro debaixo do chuveiro,
Penso em nós dois.
No que fizemos,
No prazer que nos demos.
Tudo parece distante agora que se foi.
Que seu perfume abandonou meu corpo.

Quero que a água me lave, me renove.
Deixei-me ficar a sós,
Seu perfume me confunde,
Faz-me desejar você, que já se foi.

Seu toque.
Ainda sinto você.
Está bem aqui em meu peito,
Na marca do beijo invisível sobre o seio.

Em meus dedos que te tocaram.
Em minhas mãos que te afagaram.
O seu perfume se apagou.
E quando pequei o telefone e levei ao ouvi,
Senti seu cheiro no fone, beijei o aparelho.
E desistir da ligação, pois seu cheiro voltou...
E me deu a falsa ilusão de sua presença.
Vou dormir, é quase manhã.
O telefone toca.
É você.
E seu perfume.

Nenhum comentário:

Postar um comentário