sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O ENCONTRO – Darcy Damasceno

 

– Por que tremes? (A mão arde
No braço do adolescente.)
– A senhora é tão bonita!
– Mas tu só viste o meu rosto
Na sombra e só conheceste
O corpo sob o vestido...
– Parece o rosto de tia
Mariana e o corpo dela,
Quando se encostava em mim.
Me olhava às vezes nos olhos,
Alisando assim meus braços.
– Meu louco! Meu pobre louco!
– Eu então pensava coisas,
Mas depois tinha vergonha.
– Tão moço! Por que não amas
As moças de tua idade?
– A senhora é tão bonita!
– Se eu te mostrasse meu corpo,
Vai ver tu ficavas triste.
Ainda que te lembrasse
O corpo de alguma moça
Que foi tua namorada,
Ou mesmo o da tua tia
Solteirona... Mas vai ver,
Tu ficavas com vergonha...
– É igualzinho ao da tia
Mariana... com vestido...
(Queimava a boca ensaiada
No rosto do adolescente,
Como a de tia Mariana
Quando o beijava na boca.)
– Se eu já não fosse uma velha,
Tu serias meu amante.
(Tremia o moço, colado
Ao corpo de Mariana
E tremia a prostituta,
Colada ao corpo do moço.)
– A senhora é tão bonita!
– Mas também eras meu filho:
Te penteava, arrumava
Direitinho, como as mães,
E havia de ter ciúme
Das moças que namorasses.
– Eu não tenho namorada.
– Gostas de mim, meu benzinho?
(A mão alisava as costas
E era dolorido e bom
Aquele frio na espinha.)
– A senhora é tão bonita!
– Hoje vais dormir comigo.
Vais ver meu corpo sem roupa...
– Estou com pouco dinheiro...
– Ninguém te pediu dinheiro.
Sobe comigo, se queres.
Mas em silêncio. Cuidado,
Não tropeces nos degraus.

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